Sabem aqueles filmes americanos em que eles mostram um bom jovenzinho simpático ajudando velhinhos a atravessar a rua, ou a levar sacolas? Pois bem, hoje eu fiz quase uma boa ação desse tipo. Estou até orgulhosa da minha quase boa atitude. É que não sou do tipo muito humanitário. Não que eu não me preocupe, mas sei lá, é difícil praticar o bem. Vemos situações, mas simplesmente não agimos. Alguma coisa parece impedir, talvez medo. Não sei. Sei que hoje de longe vi um senhor com sacolas, ele estava sentado na calçada, tentava levantar e não conseguia. Fiquei chocada, era uma oportunidade para ser uma boa pessoa, mas não sabia direito o que fazer. Então quando fui passando perto dele, não resisti e fui perguntar se ele queria ajuda. Eu perguntei e... NADA! Fiquei parada sem saber o que fazer, perguntei novamente! E ele me olhou, mas não sei se ele me viu! Foi um olhar azul e vazio que parecia não enxergar. Mas, não estava claro porque ele estava olhando na minha direção, mas parecia que só sentia a minha presença. Me deu desespero, ele balbucionou alguma coisa mal humorada. Não entendi o que era. E saí andando, por fim tinha uma mulher atrás de mim, eu sempre a via quando eu ia à missa, ela também se preocupou com o senhor, mas ele também não respondeu à ela.
Aí subimos o morro conversando sobre um homem que ficou cego por causa da diabete e que ele queria tomar um caldo de cano e o dono do negócio não quis vender pra ele porque a filha tinha pedido pra não fazê-lo. O pobre homem disse que pagava, mas mesmo assim o outro não cedeu preocupado com a saúde do velhinho. É complicado... Porque o homem já está no fim da vida, e o único prazer que ele teria naquele momento, poderia matá-lo. Que graça tem viver e não sentir que está vivo? Se bem que eu também não iria querer conhecer a morte - não quero- vai saber qual é a dor de sentir seu corpo parando? Não acredito que seja tão fácil morrer quanto a gente vê. É que nem a coisa da relatividade. Você comendo o que mais ama por dez segundos, e você segurando uma panela quente por dez segundos. O tempo é o mesmo, mas a sensação faz com que o momento dure pouco ou muito. Imagino que uma pessoa possa morrer em segundos, mas a dor daquele momento a faça sentir como se fosse uma eternidade. Essas coisas de vida e morte são complicadas mesmo e difíceis de aceitar. Enfim, sou imortal até que eu me vá pra sempre. E tomara que algum dia eu consiga fazer minha boa ação pra compensar as maldades que sempre passam pela minha cabeça no dia-a-dia.
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